Conheci o arquitecto portuense Mário Borges em Genebra em 1968. Exilado no princípio dos anos sessenta, passara por Londres e depois fixara-se na Suíça. Na altura em que o conheci já era mais um intelectual crítico do que um militante político.Muito céptico quanto aos «amanhãs que cantam», conversar com ele sem agenda nem finalidade era sempre um desafio: desde o urbanismo aos «Rencontres de Genève» que papávamos com afinco em Setembro nesses anos reanimados. Fiz uma referência a essas conversas no livro Pátria Utópica que um grupo de exilados que regressou a Portugal depois do 25 de Abril publicou.
Mário Borges não regressou. Deixou-se ficar quase sozinho na cidade de Calvino.Participou na concepção do novo edifício da Cruz Vermelha Internacional que mostrava com cuidados de pai. Quando vinha a Lisboa era uma festa de ideias, debates, reencontros, e planos para o futuro. Há menos de um ano informou-nos que regressava ao Porto e que dizia adeus a Genebra. Estava doente. Ainda o fomos visitar ao Porto. De uma das vezes levei-lhe As Cartas a Lucílio de Séneca. Da outra disse-me que já não o podia ler porque o volume lhe pesava cada vez mais e se tornara incómodo.Lia Santo Agostinho. Faleceu em plena quadra natalícia e deixou uma pequena lista de nomes para notificar quando se desse o acontecimento. Mário Borges, um amigo para a vida e para a morte.