domingo, 31 de março de 2013

Horas velhas e horas novas

Há pelo menos sessenta anos, sempre que havia mudança de hora em S. Miguel, estabelecia-se uma diferença automática entre horas velhas e horas novas. As «horas velhas» mantinham-se nas freguesias rurais, cujas actividades continuavam a ser pautadas pelo toque do sino das trindades que garantia o labor agrícola de «sol a sol», mesmo sem troika. Já as «horas novas», ou «hora de verão», vigoravam oficialmente na vida urbana, no liceu, no horário de trabalho na cidade, nos transportes e nos espectáculos. Criança, fiquei logo adepto das horas novas, que ainda por cima poupariam energia . Adulto, retomo à minha maneira, sempre que muda a hora,  aquele verso de Ruy Belo «Espero pelo verão como por uma nova vida». Embora hoje a chuva não tenha permitido celebrar a mudança. Talvez amanhã ao fim da tarde.

sexta-feira, 29 de março de 2013

O cerne da questão

O PS apresentou a sua moção de censura ao governo e no texto declara que «Portugal precisa de um novo governo e de uma nova política.» Este é o cerne da questão. O resto são distracções.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Falta de sentido nacional

Todos viram pelas televisões os prejuízos causados pelos temporais nas ilhas dos Açores. O governo regional estimou em cerca de 38 milhões de euros os danos causados pelos elementos em fúria. O executivo de Passos Coelho deliberou só canalizar recursos para as autarquias que irão a votos em Outubro, como se os prejuízos causados não tivessem afectado em cerca de 90% áreas de competência do governo açoriano.Gente pequenina essa que está perdida na vastidão do Terreiro do Paço.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Marina Costa Lobo

Agora que se fala tanto de personalidades e comentadores,e esta noite se tratou tanto do passado, a minha atenção foi para uma fina análise de Marina Costa Lobo sobre a evolução do regime post-partidário em Portugal assente na televisão. Independentemente da chegada de José Sócrates à RTP, Portugal é o pais em que a procissão já saiu do adro e se dirige não se sabe bem para onde. As instituições estão a contar menos.

As Armas de Papel

Dei hoje um grande passeio pelo Chiado. Fui parar, é claro, às livrarias. Sopesei as «novidades», e comprei o livro do Pacheco Pereira As Armas de Papel. Esta obra de Pacheco Pereira é notável. Trata-se de um monumento à investigação cultural individual, pois o objecto da investigação tinha tudo para dar aso a não-sei-quantos projectos tipo FCT. Mas não. Como o autor explica:
«O projecto nasceu fora da universidade, continuou fora da universidade e vai acabar fora da universidade, mas vai para a frente enquanto puder.É um trabalho individual, com recursos próprios como agora se diz,«sem apoios».
É um imenso, utilíssimo, e inteligente trabalho de recolha, sistematização e enquadramente de publicações clandestinas e do exílio ligadas a movimentos radicais de esquerda cultural e política, entre 1963 e 1974. São 600 páginas para adultos.

terça-feira, 26 de março de 2013

In Memoriam de Jean-Claude Favez ( 1938- 2013 )

Recebi hoje, vinda da Suíça, a notícia do falecimento do meu antigo Professor e Reitor da Université de Genève, Jean-Claude Favez. Chorei. Foi nas suas extraordinárias e vibrantes aulas que me formei na mentalidade intelectual que a disciplina da História Contemporânea requer muito exigentemente. Fiquei seu aluno por opção até ao fim da licenciatura. Foi o meu orientador do «Mémoire de Licence», fui seu assistente, entusiasmou-me a prosseguir os estudos para o doutoramento,e proporcionou-me as condições para o efeito, que interrompi depois de 25 de Abril de 1974.Mantive com ele uma relação de amizade e respeito pela vida fora.A Universidade com ele era outra coisa.Tenho comigo grande parte da sua obra de investigador e historiador. Quando digo que devo muita da minha formação académica e pessoal à cidade de Genève estou a dizer que devo muito a Jean-Claude Favez. Uma luz que se apaga, mas uma referência que fica

Literatura económica

Sempre gostei de ler literatura económica. Lembro-me dos boletins da Junta Geral do Distrito Autónomo de Ponta Delgada nos anos sessenta, dos relatórios anuais em papel do Banco de Portugal tão bem encadernados e comedidos nas suas análises, de alguns clássicos da economia política mundial em que me deixava seguir pelos caminhos do método dedutivo e das teorias escassas.
Hoje as necessidades são outras.Procuro muitas outras análises, procuro nomes em que tenha confiança: leio os Ladrões de Bicicletas, leio o Luis Filipe Salgado Matos, leio o Pedro Laíns, e alguns outros na blogosfera. Como o website http://www.peprobe.com/ que me dá notícias há um ano

segunda-feira, 25 de março de 2013

O governo no mercado político

O PS vai apresentar uma moção de censura, e até alertou as chancelarias para o efeito. Membros da comissão política do CDS pedem em plena praça Adelino Amaro da Costa a remodelação do governo. Tudo indica que o TC vai declarar inconstitucional as medidas orçamentais especiais para pensionistas e reformados. O representante do FMI chama de novo a atenção para a impotência do executivo quanto à necessária diminuição das «rendas excessivas» na energia e nas PPP. O «desenho» do memorando começa a confundir Passos Coelho e Vítor Gaspar, seus incansáveis copiadores. Como previ em Novembro: este governo já não apresenta a proposta orçamental para 2014. É uma diferença de análise que mantenho com Marcelo Rebelo de Sousa.

sábado, 23 de março de 2013

Cartão amarelo

Tenho vindo a observar uma queda na qualidade de liderança de Paulo Bento na selecção, o que se reflecte numa baixa ainda maior do empenhamento e discernimento de muitos jogadores durante os jogos. Ontem, o capitão Ronaldo, que terá rivalizado  em popularidade em Israel com Obama segundo a imprensa desportiva do coração!, sofreu um cartão amarelo infantil ainda Portugal perdia a partida, e assim não poderá jogar terça-feira com o Azerbeijão. Não vejo porque fica na comitiva. O que tem ele de positivo para transmitir nessa ociosidade?

sexta-feira, 22 de março de 2013

Debates e comentários

Não aprecio José Sócrates politicamente. Não sou néscio ao ponto de não perceber o que significa a televisão pública oferecer um programa de comentário livre a qualquer personalidade pública ao domingo à noite em canal aberto. A história da perversão do regime passará pela descoberta dos mecanismos desses favores que já beneficiaram mais do que um candidato a primeiro-ministro e a presidente da República, ou tão só ao politicamente indolor. Mas vamos lá a ter calma. Deixem o homem falar.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Um desastre para todos

A Assembleia da República preferiu entregar aos tribunais a interpretação da lei sobre o limite dos mandatos autárquicos. Foi um acto de oportunismo e de cobardia política que há-de manchar ainda mais esta desgraçada legislatura, não por falta de soberania externa mas pela abdicação voluntária da soberania interna. Uma época de «fracos-espertos». Uma desligitimação de todos. A «procissão» dos recursos só irá agravar este triste espectáculo. Só assistir a isto custa muito.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Nas ilhas fia mais fino

Quem diria que seria num Estado-Ilha da Europa que o unilateralismo da Troika seria desautorizado pela primeira vez por um parlamento nacional? Mas se a História explicar mais do que a Economia percebe-se melhor porque tal aconteceu em Chipre. O avião inglês com os meios financeiros a bordo para garantir a integridade dos depósitos bancários de salários e pensões para os seus funcionários das bases militares cipriotas deve fazer pensar muita gente no continente europeu. Por enquanto a negociação continua.Mas a contestação aos mandantes da troika vai aumentar. Mesmo que seja ao nível eufemístico do «desenho» do «memorando»...

terça-feira, 19 de março de 2013

Quem ficará com os euros ?

Aumentar impostos requer um procedimento prévio democrático-parlamentar que julgaríamos assegurado em qualquer parte da UE. As taxas financeiras em Chipre podem oscilar para cima e para baixo, às vezes conforme «os mercados», outras vezes não. O que a «zona euro» não pode fazer é dar a entender que se houver saídas da moeda «única» uns ficarão com os euros e outros não, sem prazos de transição e de um momento para o outro ao fim-de semana- ou num dia feriado que ainda haja para o efeito. Isso é que será uma guerra civil europeia.A primeira.

domingo, 17 de março de 2013

Crónicas de Anos de Chumbo

Agora que Chipre encontrou a sua via cruxi - mesmo assim sem mexer nas pensões, seguindo o exemplo espanhol - temos mais uma razão para aguardar com a maior expectativa e esperança o livro das Edições 70 que o Professor Paz Ferreira lança esta terça-feira dia 19 na reitoria da Universidade de Lisboa pelas 18h e 30, intitulado
Crónicas de Anos de Chumbo. Eduardo Paz Ferreira tem vindo a revelar-se neste período como um dos universitários mais anti-dogmáticos e críticos dos remédios para as finanças públicas europeias propostas pela troika. Foi dele que partíu a libertadora ideia de patrocinar uma série de conferências subordinada ao tema
Vamos avaliar a Troika.
O livro terá a apresentação do Reitor Sampaio da Nóvoa, e uma intervenção rara mas necessária do General Ramalho Eanes. Os três juntos representam o espírito de realismo libertador de que a sociedade portuguesa está cada vez mais carente.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Homem festeja o incêndio da sua casa ou V. Gaspar esta manhã

O sexo dos calendários europeus

Jacques Delors inventou o método do calendário para fazer avançar o mercado interno entre 1985 e 1992. Deu algum resultado, embora já alterado pelo Tratado de Maastricht. A partir daí qualquer meta passou a ser acompanhada pelo arbítrio de um calendário qualquer. Por exemplo: a meta dos 3% nos défices orçamentais foi anunciada desde 1998 com um rigor só comparável à sua constante dilação desde o início do século. Todos os anos debate-se com afinco a nova data. Assim chegamos a 2015. Ainda há quem pense que é um problema de constituição!

quinta-feira, 14 de março de 2013

As maratonas do Parlamento Europeu

Leio a notícia de que o deputado grego vice-presidente do Parlamento Europeu teve um ataque de coração quando presidia a uma maratona de votações. Lembro-me bem dessa metodologia em Estrasburgo. «No meu tempo» era a quinta-feira o dia dedicado ao pacote e nunca se sabia ao certo quantas horas demoraria, caso houvesse guerra de procedimentos. Embora no PE quem dirige essas sessões esteja assessorado por um corpo de funcionários - e não só pelos deputados secretários- o certo é que o máximo de atenção é exigido ao presidente. E inevitavelmente lembrei-me de um comentário recorrente do meu vizinho de bancada- o canarino professor de direito constitucional Medina y Ortega, que me repetia vezes sem conta nessas ocasiões «José- todo o esforço inútil tende para a melancolia!»
O deputado grego foi vítima de algo bem mais grave e objectivo.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Tantos sinais

Não me quero antecipar ao que dirão os «vaticanistas», nem pretendo ser mais do que um fragmentado estudioso de teologia protestante na minha Universidade-Mãe-,a de Genève, mas sempre fui um observador político que não aprecia o «ruído comunicacional» quando este é puro vazio. Mas este bispo de Buenos-Aires, agora bispo de Roma, distribuiu sinais de sobra em directo para o mundo em 10 minutos. A começar pela ressurreição do povo como sede da benção silenciosa suscitada por FranciscoI.E a saudação delicada à «bela cidade de Roma.»
E vou agora ler o oportuno poema de Jorge-Luis Borges sobre a sua vivência de Buenos.Aires- pulicado hoje por Francisco José Viegas no seu blogue A Origem das Espécies.

terça-feira, 12 de março de 2013

O Estranho Dever do Cepticismo

Mário Mesquita lança amanhã o seu livro O Estranho Dever do Cepticismo, uma edição Tinta da-China.
O título é bem dele e define-o no seu aspecto de homem que pensa criticamente tudo. Poderia ter escolhido um percurso de intelectual- ou de pedagogo- mas viu-se envolvido desde cedo no compromisso com a luta tenazmente filosófica pela liberdade dos outros e de si próprio num país velhacamente descrente de tudo que o faça progredir. Mário Mesquita ficou precocemente configurado ao seu papel de notável fazedor de jornais e de pensador de referência do poder dos média, que designou de « Quarto Equívoco», numa das suas obras mais citadas.
Talvez por ter entendido que eu próprio terei ficado também desde a juventude preso a uma imagem de «político», o meu Amigo Mário Mesquita gosta de recordar alguns conselhos que dei aos «happy few» das tertúlias dos cafés atlânticos, e na generosa dedicatória que  me faz neste livro recorda ter-lhe sugerido o padre Manuel Bernardes como leitura para uma língua de lei.
O livro que é lançado amanhã por um alexandrino como Eduardo Paz Ferreira tem ainda o prefácio literário de Lídia Jorge.
No Corte-Inglês em Lisboa às 18e30.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Que fazer com estas manifestações?

Mais um desfilar de gente nas ruas de Portugal. O povo apresenta-se cada vez mais de corpo inteiro a pedir aos seus representantes que o defendam. Pedem a demissão deste governo e esta acontecerá mais cedo ou mais tarde. Entretanto o governo pode, se quiser, aproveitar a força destas manifestações para convencer o FMI, a Comissão Europeia e o BCE, que está na hora de uma renegociação do «Memorando de Entendimento». Ao mesmo tempo deve tentar estender o perfil do serviço da dívida no tempo. Se conseguir isso, quando cair não haverá só ruínas como agora.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Filhos de amigos que emigram

Por coincidência encontro no espaço de 24 horas três amigos aqui perto de casa. Todos referem que os filhos únicos, nos trintas, emigraram: um para França, outro para Inglaterra, a mais recente para a Noruega. Todos «well educated». A « ordem para emigrar» continua no dia-a-dia. Saberá a troika avaliar esse efeito das suas medidas? Quererá ao menos saber?

Gosto