domingo, 12 de outubro de 2014

A praxe é a praxe é a praxe




Não é possível fazer uma praxe boazinha. Ou há praxe ou se acaba com ela. O meio termo não é possível. Pelo menos desde os anos 70 que a Psicologia (explico melhor em O Cérebro da Política) demonstrou que a linha que divide o bem do mal é mais fina que uma folha de papel. E que a maioria de nós, colocado no papel de Dux, apresentaria a mesma prepotência. O psicólogo Zimbardo recrutou para a sua experiência vários participantes: uns para fazerem de guardas prisionais, outros para desempenharem o papel prisioneiros. Selecionou-os cuidadosamente, eliminando indivíduos com psicopatologia, e meteu então 24 homens numa cave. A encarnação do papel foi, a partir daí, o mais fiel possível: os reclusos foram acusados de determinados crimes, revistados à chegada e vestidos com fatos típicos de detidos. Ao fim de dois dias, porém, os “guardas” começaram a manifestar comportamentos sádicos, suprimindo direitos aos prisioneiros e criando novas formas de punição (estavam proibidos de aplicar castigos físicos). Um dos guardas especializou-se em aplicar sanções particularmente humilhantes, obrigando por exemplo os reclusos a simularem sodomia uns com os outros. Um terço dos guardas adotou este tipo de comportamento. Inicialmente, a experiência deveria durar duas semanas, mas Zimbardo acabou por ter que interrompê-la pois tinha-se tornado perigosa demais.

As pessoas conformam-se com o grupo, obedecem à autoridade e podem tornar-se especialmente sádicas e violentas se a situação o estimular. A situação da praxe é um poderoso estímulo. E só não haverá esse sadismo se praxe for, simplesmente, abolida.

Gosto