Não é possível fazer uma praxe boazinha. Ou há praxe ou se
acaba com ela. O meio termo não é possível. Pelo menos desde os anos 70 que a
Psicologia (explico melhor em O Cérebro da Política) demonstrou que a linha que
divide o bem do mal é mais fina que uma folha de papel. E que a maioria de nós,
colocado no papel de Dux, apresentaria a mesma prepotência. O psicólogo Zimbardo
recrutou para a sua experiência vários participantes: uns para fazerem de
guardas prisionais, outros para desempenharem o papel prisioneiros.
Selecionou-os cuidadosamente, eliminando indivíduos com psicopatologia, e meteu
então 24 homens numa cave. A encarnação do papel foi, a partir daí, o mais fiel
possível: os reclusos foram acusados de determinados crimes, revistados à
chegada e vestidos com fatos típicos de detidos. Ao fim de dois dias, porém, os
“guardas” começaram a manifestar comportamentos sádicos, suprimindo direitos
aos prisioneiros e criando novas formas de punição (estavam proibidos de
aplicar castigos físicos). Um dos guardas especializou-se em aplicar sanções
particularmente humilhantes, obrigando por exemplo os reclusos a simularem
sodomia uns com os outros. Um terço dos guardas adotou este tipo de
comportamento. Inicialmente, a experiência deveria durar duas semanas, mas
Zimbardo acabou por ter que interrompê-la pois tinha-se tornado perigosa
demais.
As pessoas conformam-se com o grupo, obedecem à autoridade e
podem tornar-se especialmente sádicas e violentas se a situação o estimular. A situação
da praxe é um poderoso estímulo. E só não haverá esse sadismo se praxe for,
simplesmente, abolida.