Uma das histórias que ilustra os paradoxos na comunicação é a da mãe que oferece ao filho duas gravatas, uma azul outra verde. Ele agradece e coloca a primeira. A mãe pergunta-lhe se escolheu aquela porque não gostou da outra. O filho diz que não, tira a azul e põe a verde. A progenitora diz-lhe que, afinal, foi da azul que ele não gostou. Baralhado, o filho acaba por colocar as duas gravatas e sair assim para a rua. Foi disto que me lembrei ao ouvir o discurso de Cavaco Silva, além do que José Medeiros Ferreira já comentou aqui. Foi uma fala alarmista e em crescendo, feita de frases como:
“tenho a obrigação de alertar os Portugueses para a situação difícil em que o País se encontra”; “A dívida do Estado tem vindo a crescer a ritmo acentuado e aproxima-se de um nível perigoso”; “Se o desequilíbrio das nossas contas externas continuar ao ritmo dos últimos anos, o nosso futuro, o futuro dos nossos filhos, ficará seriamente hipotecado."; “Com este aumento da dívida externa e do desemprego, a que se junta o desequilíbrio das contas públicas, podemos caminhar para uma situação explosiva.”; “Estamos perante uma das encruzilhadas mais decisivas da nossa história recente.”
No final, o que é que Cavaco Silva concluiu?“Repito aos Portugueses o que lhes disse há precisamente um ano: não tenham medo.”