sábado, 24 de abril de 2010

A rifa da democracia

 
Domingos Névoa tentou subornar o vereador José Sá Fernandes com 200 mil euros. Foi condenado em 5 mil (40 vezes menos). Tudo ficou provado, mas Ricardo Sá Fernandes (que denunciou) foi multado em 10 mil. Pagou-os ao empresário condenado por lhe chamar corrupto. Para o dito, o saldo foi positivo. Amealhou 5 mil euros e saiu como o caluniado.


Chega? Não. Agora, Névoa foi absolvido. A Relação considerou-o desinformado: o vereador não teria poderes para o que o corruptor pretendia. A interpretação destes juízes significa duas coisas. Primeiro, a ignorância compensa (veja-se o caso Figo). Doravante o cidadão deve fazer--se de (ou ser) ignorante. Se for corrompido, pode ganhar dinheiro. Se não ignorar a corrupção e denunciar, pode perder.

Segundo, ninguém pode ser acusado de corromper um vereador. Só o Presidente de Câmara. Nem um secretário de estado. Só um Ministro. Ou só mesmo o PM. No limite, como muitas decisões são colectivas, acabou-se a corrupção. Daí que existam tão poucas condenações por este crime: os outros tribunais foram visionários e já estavam a seguir esta linha. Que bom. Finalmente, há quem trate desta gangrena em Portugal. Talvez, em todo o mundo. Muito obrigada, Tribunal da Relação. A democracia agradece-lhe eternamente esta linda rifa do 25 de Abril. 


 

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