Em 2010, Nobre reunia muitas facetas promissoras para a sua candidatura. Até com mais vantagens do que Alegre em 2005. Ao contrário do cliché, o médico não foi o poeta das anteriores presidenciais, pois o Alegre de 2005 dificilmente poderia ser considerado um debutante da política. Era “o rebelde”, mas não o forasteiro. Ou seja, mais do que a “figura histórica do PS”, Nobre detinha a aura de independente que se revelara tão auspiciosa há 5 anos. Por outro lado, tinha obra e colhia uma expectativa positiva sobre o que de diferente poderia trazer para a política, vista por tantos como inquinada.
Nobre desbaratou este capital. Da imagem de empenhado médico humanista da sociedade civil, passou a um lugar confuso. Insistiu que nem era esquerda nem direita. Sobre questões essenciais, como Saúde ou Educação, nunca foi claro. Aproveitou mais o descontentamento dos portugueses do que lançou soluções. Posicionou-se como homem providencial. Mostrou um crasso desconhecimento sobre os poderes do Presidente garantindo, por exemplo, que se bateria pela redução do número de deputados. Tanto apresentou o residente de Belém como árbitro como enquanto decisor.
Nobre apresentou muito currículo e poucas ideias. Muito passado e pouco futuro. Daí que o seu resultado seja surpreendente. Como resistiu no meio de tanta gaffe e impreparação? Como, mesmo assim, captou votos da esquerda não alegrista e votos de descontentamento? A sua votação indicia como as presidenciais de 2016 terão largo espaço para outro independente. Mas não pelas melhores razões.
Publicado no Correio da Manhã.