terça-feira, 16 de novembro de 2010

A cigarra medricas


Durante semanas, os especialistas em economês juraram que a viabilização do orçamento sossegaria os mercados. Mas o juro não baixou. Esses reputados zandingas, os que não viram a crise já ela rebentava a porta, seguem a lógica do relógio parado que acerta duas vezes ao dia. Erram quase sempre, mas logo arranjam nova explicação: primeiro era o excesso de salários; depois a inevitabilidade de um mau orçamento; agora, a má execução e até o debate parlamentar. Quais pessoas, qual emprego, qual quê. Acalmar e agradar aos mercados é o alfa e o ómega. Só que essas entidades não são um bebé rabugento que precisa de colo. São especuladores que visam o enriquecimento fácil e atacam o elo mais fraco. Hoje, aumentam os juros, exigindo “consolidação orçamental”. Amanhã, penalizam-nos porque essa consolidação impede o crescimento.
Renegociar a dívida? Difícil, pois implica uma iniciativa dos devedores. Distribuir sacrifícios? Mas manda quem paga, como diz Ferreira Leite. Pressionar o Banco Central Europeu a emprestar aos países da zona euro? Leva muito tempo. Enfim, a mercadologia corresponde ao conteúdo do centrão. Mas também à sua forma de fazer política: apostar sempre em soluções imediatistas com pesados custos a longo prazo. Nunca em planos estratégicos com grandes ganhos no futuro. 

Publicado no Correio da Manhã.

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