Vasco Graça Moura sempre se opôs ao Acordo Ortográfico. Está no seu direito É a sua opinião. Mas ser nomeado para dirigir o CCB e tomar como primeira decisão a suspensão da aplicação desse diploma já não é um direito. Vasco Graça Moura não é dono e senhor da língua portuguesa e nem sequer é o CCB. Não pode confundir a sua pessoa com a instituição que dirige nem sobrepor a sua vontade à lei. Longe vão os tempos do Rei Sol, do absolutismo, da coincidência entre o Estado e os caprichos de quem o dirige. Caso contrário, imagine o que seria se cada recém-chegado a um cargo público ordenasse que se escrevesse consoante as suas preferências, por exemplo, com esta mesma ortografia anterior à revisão de 1911.
Desobediência civil, aclamam alguns, batendo palmas. Ai, pobre Henry David Thoreau dando voltas na tumba. Só que esta decisão de corajosa ou coerente nada tem. Pelo contrário. Coragem e coerência teriam existido se o ex-deputado europeu tivesse declinado o lugar, alegando incompatibilidade entre as suas posições quanto ao AO e o exercício de um cargo público. Em si mesmo, esse seria um acto de grande pressão, legítima, sobre o governo e o parlamento para a revogação do AO. Assim, a imposição do ex-deputado europeu é mera prepotência. É este tempo.