sábado, 18 de outubro de 2014

IDADE DAS TREVAS


Em 2013, Portugal criou 10000 novos milionários e 200000 pobres. Eis o resultado da austeridade. Os mais ricos ficam mais ricos e nascem novos ricos (10% de portugueses controlam 60% da riqueza nacional); os mais pobres ficam mais pobres e surgem novos pobres (a percentagem de pobreza persistente passou de 8,2% em 2012 para 10,4% em 2013). A austeridade não é igual para todos. Os sacrifícios não são distribuídos. Ao pé do programa da austeridade, o programa sobre a vida selvagem e os seus predadores famintos atrás de presas incautas parece matiné para meninos. Esta política faz a seleção natural ou a lei do mais forte parecerem uns copinhos de leite.

Em 2013, um terço das nossas crianças viveu em privação material. As contas deste ano serão piores. Logo, este é mais um Orçamento falhado que, anos depois e contra todas as evidências, continua a escolher a troika em vez das pessoas, o défice em vez do emprego, uma ideologia fanática em vez do combate à fome. Que continua a fazer escolhas que vão dos tempos das cavernas aos medievais. Chega.

domingo, 12 de outubro de 2014

A praxe é a praxe é a praxe




Não é possível fazer uma praxe boazinha. Ou há praxe ou se acaba com ela. O meio termo não é possível. Pelo menos desde os anos 70 que a Psicologia (explico melhor em O Cérebro da Política) demonstrou que a linha que divide o bem do mal é mais fina que uma folha de papel. E que a maioria de nós, colocado no papel de Dux, apresentaria a mesma prepotência. O psicólogo Zimbardo recrutou para a sua experiência vários participantes: uns para fazerem de guardas prisionais, outros para desempenharem o papel prisioneiros. Selecionou-os cuidadosamente, eliminando indivíduos com psicopatologia, e meteu então 24 homens numa cave. A encarnação do papel foi, a partir daí, o mais fiel possível: os reclusos foram acusados de determinados crimes, revistados à chegada e vestidos com fatos típicos de detidos. Ao fim de dois dias, porém, os “guardas” começaram a manifestar comportamentos sádicos, suprimindo direitos aos prisioneiros e criando novas formas de punição (estavam proibidos de aplicar castigos físicos). Um dos guardas especializou-se em aplicar sanções particularmente humilhantes, obrigando por exemplo os reclusos a simularem sodomia uns com os outros. Um terço dos guardas adotou este tipo de comportamento. Inicialmente, a experiência deveria durar duas semanas, mas Zimbardo acabou por ter que interrompê-la pois tinha-se tornado perigosa demais.

As pessoas conformam-se com o grupo, obedecem à autoridade e podem tornar-se especialmente sádicas e violentas se a situação o estimular. A situação da praxe é um poderoso estímulo. E só não haverá esse sadismo se praxe for, simplesmente, abolida.

sábado, 11 de outubro de 2014

DIA DE PAGAMENTO



Longe vão os tempos em que os maiores trunfos políticos de Passos Coelho eram a sua suposta eficiência e a sua presumida honestidade. A eficiência, que resistiu a ir pelo cano com o facto da austeridade aumentar a dívida em vez de a controlar, estatelou-se no asfalto com o Citius e os professores. Já a honestidade começou a esboroar-se com o caso Tecnoforma e acaba de estirar-se ao comprido com o BES.

Todos os chefes de um executivo vivem da credibilidade da sua palavra. Mas o mito do homem de Massamá, honrado e moderado, vivia e morria por ela. Já foi. Passos Coelho garantiu que “os contribuintes não voltariam a ser chamados à responsabilidade por problemas que não foram criados por eles” até porque isso seria  “usar o seu dinheiro para pagar a falta de ética e de escrúpulos”, e agora o governo declarou que o buraco do BES vai ser coberto pelos contribuintes. Muito bem Sr. Primeiro Ministro. Obriga-nos, então, a pagar dos nossos bolsos a anti-ética e a ilegalidade. Pois tenho a impressão que a falta de palavra vai o senhor pagObrigaoor o governoa-nos,úpulo".assque os deve.oelho descanse em paz. ssos Coelho, com o mito do homem de Massamernacionalmente,á-la. E oxalá também seja a dobrar.

domingo, 5 de outubro de 2014

CARA DEPUTADA




Mónica Ferro,

Na sua qualidade de deputada do PSD e relatora da “Comissão dos Submarinos”, gostaria de lhe agradecer - como cidadã, eleitora e contribuinte. Estávamos, dez anos depois, perto de saber porque razão o consórcio alemão pagou 30 milhões a uma empresa portuguesa (do Grupo Espírito Santo-ES) e a senhora afirma que "nenhuma pergunta ficou por fazer". Soube-se que desses 30 milhões, 5 foram distribuídos pela família ES e que uma outra fatia terá ido parar a outro elemento, mas a senhora deputada conclui que “Não se retirou qualquer prova ou sequer indício de cometimento de ilegalidades pelos decisores políticos ". O PSD e o CDS chumbaram a audiência a Paulo Portas, logo a senhora declara que  "nenhum decisor político ficou por ouvir" . Os trabalhos foram interrompidos a meio, daí a senhora afirmar que foi “o mais exaustivo trabalho de contraditório e recolha documental". A deputada Mónica Ferro é um exemplo vivo de representação do eleitor, do povo, do interesse público, do combate aos poderosos. E da verdade. Parabéns. Durma descansada.

Gosto