segunda-feira, 30 de junho de 2014

Estudar a lição

Cavaco Silva marcou um Conselho de Estado para esta semana. Há mais de um ano que este órgão não reunia já que no último o Presidente da República saiu absolutamente derrotado. Cavaco convocou os conselheiros com o distendido pretexto de discutir o pós-troika, mas a coisa foi bem mais tumultuosa, com o presidente do Tribunal Constitucional a confrontar Passos Coelho, vários a mostrar a impossibilidade do consenso e tantos outros a defender eleições antecipadas. No final, na redação do comunicado oficial, o PR procurou ocultar a verdade.

Talvez Belém agora pense que tanto tempo volvido, com o PS em crise e com Orçamento ainda distante, esta seja a altura mais neutral para nova convocação. Afinal, o tema quente é o BES. A verdade é que, depois de Passos Coelho ter partidarizado o PR, este não tem condições para arbitrar a vontade dos portugueses. E esta reunião só teria interesse se Cavaco o demitisse. Ou se se demitisse. Senão, pode ser que seja o PR que, de uma vez por todas aprenda a lição.

sábado, 28 de junho de 2014

Bolsão de Higgs




Só para relembrar umas coisinhas. Lembram-se que depois da crise de 2008 nos juraram a pés juntos que iam tratar a loucura maníaca dos mercados? Pois, mas desde então foram injetados 1,3 biliões de euros de dinheiro público no sistema financeiro. Um décimo da riqueza mundial. Para estimular a economia real? Será ? É isso que sentem na vossa carteira? Não me parece. Foi mais para ajudar a especulação. Em 2013, 93% das transações foram entre instituições financeiras. Só 7% se realizaram com empresas ou agentes da economia real. Os "derivados" representam dez vezes mais do que a totalidade do PIB mundial. Cinco anos depois, metade da atividade da finança mundial continua fora de qualquer regulação e os hedge funds gerem dois biliões de dólares, bem mais do que antes de a crise de 2008. Paraísos fiscais à parte.

O indicador que reflete a relação entre a capitalização bolsista e o PIB está perto de 120%, tendo mais do que duplicado desde o ponto mais baixo atingido em 2008. Recorde-se que aumentou de 60% em 1996 para 150% em 2000, antes de cair novamente para 60% aquando da crise do dot.com. Depois, subiu gradualmente até mais de 110% em 2007, para voltar a cair para pouco mais de 50% com a crise financeira de 2007-08.  O que vem aí não uma bolha que nos vai rebentar na cara (agora com os Estados já sem recursos). O que  vem aí é um bolsão tipo Higgs. Afinal, como dizia o banqueiro JM Naulot, a finança mundial é uma central nuclear sem qualquer norma de segurança.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Constituição cereja

Poucos sabiam quem era, realmente, Passos Coelho até porque PM foi o seu primeiro cargo governamental. Foi assim que foi eleito. Agora, é claro que se trata de alguém que veio para esfacelar o sistema político e terminar com a sociedade tal como a construímos desde 74.

Mas os sinais estiveram sempre lá: Passo Coelho gosta de expressões como “chefe de governo” e “união nacional”; eliminou o feriado de 5 de Outubro e evitou as celebrações do centenário; prometeu a presidência da Assembleia da República a F. Nobre, julgando-se proprietário do aparelho de Estado e depois substitui-o por Assunção Esteves, acantonando os senadores e desenhando uma nova hierarquia no PSD com representação institucional; partidarizou Durão Barroso; anulou Paulo Portas; anexou Cavaco Silva; condicionou o perfil do próximo PR; instrumentalizou o parlamento com o pedido de aclaração. Empobreceu o país e depauperou o estado social com a desculpa da dívida que não para de crescer. A subversão do equilíbrio e separação de poderes com a afronta ao Tribunal Constitucional é a cereja.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

MEMÓRIA A LONGO PRAZO- A CULPA É DO MORDOMO

Com o Iraque assim
 E a UE assado, vale a pena lembrar 

AMOR ELEITORAL

Para fechar a última avaliação da troika, o governo teria que apresentar as medidas alternativas ao chumbos do Tribunal Constitucional (TC). E isso significaria que, afinal, não é assim tão difícil encontrar um Plano B, ou seja, o abrandamento da pressão sobre o palácio Ratton e a perda de um bode expiatório para os fracassos do executivo. Segundo, como só sabe governar cortando salários e aumentando impostos, adiar essas decisões significa que há medo de perder ainda mais votos, ou seja representa uma linha eleitoralista.

E é por isto que se tem assistido à absoluta incoerência do governo. Inicialmente queria “ir além da troika”. Depois, nas vésperas das europeias, queria “libertar-se”. Mais tarde, responsabilizou o TC por uma eventual não conclusão da intervenção externa. E, agora, dispensa o último cheque. Só que estas mudanças não representam nenhum desnorte. Mostram apenas que Passos Coelho coloca-se perante a troika conforme lhe convém eleitoralmente. Tipo: “Viva as eleições. Os portugueses que se lixem.”

domingo, 15 de junho de 2014

MEMÓRIA A LONGO PRAZO- QUANDO CAVACO & Cª GOSTAVAM DE DIVULGAR O DESFALECIMENTO NA BANHEIRA






"A Sábado esteve quatro dias, de manhã à noite, com o candidato. Cavaco Silva cantarolou, disse piadas e adormeceu na banheira."

MEMÓRIA A LONGO PRAZO - SOARES 2005 & OS BOLETINS CLÍNICOS





Onde andam agora os que diziam, em 2005 (há quase uma década), que Mário Soares era demasiado velho e pouco de esquerda para o terceiro mandato presidencial (2006-2011)? Certo é que, desde militantes do Bloco até aderentes do PSD, muitos já mudaram a sua opinião. Já agora, onde estão agora os apoiantes indefectíveis de Cavaco Silva a Belém? E alguém mudou a sua perspetiva sobre a importância da apresentação dos boletins clínicos? Sobre isso, vale a pena recordar este post de José Medeiros Ferreira, em 2005:"Em princípio é uma informação mais relevante para o exercício do cargo do que a exibição da declaração de IRS.Por que será que Jorge Sampaio quando foi operado, já era Presidente da República, achou relevante essa informação, e ela agora é vista como indecente? Pois eu acho que os candidatos deviam voluntariamente disponibilizar os relatórios clínicos a que se submetem antes de entrarem nestas corridas.Mas, por favor, não façam nenhuma lei sobre isso!"

sábado, 14 de junho de 2014

CONVITE

Hoje, o lançamento do livro será na livraria Almedina do Arrábida Shopping. 16.30.

EUTROCA



Se a UE não fosse uma anti-democracia, se o Presidente e membros da Comissão Europeia fossem eleitos pelo parlamento e escolhidos entre os seus deputados, além dos benefícios evidentes para a construção da Europa, não assistiríamos a este braço de ferro de Cameron/Merkel a propósitode Juncker. Veremos se o que o Reino Unido quer não é mais do que conquistar espaço negocial- diz sim ao luxemburguês em troca de quê? Mas seja o que for que aconteça, negociações de baixo da mesa ou o parlamento a aceitar apenas um presidente que tenha sido candidato ao cargo, o desfecho será sempre um indicador  da possibilidade real da UE transformar-se numa democracia. Ou não. 

Gosto