segunda-feira, 31 de maio de 2010

A mais-do- que-direita coloca Cavaco ao centro?

O Cardeal expressou-se mal sobre a contabilidade dos votos que Cavaco Silva teria ganho caso fosse mais coerente com os seus valores religiosos no caso da promulgação da lei sobre casamento entre pessoas do mesmo género. Com os Torquemadas à solta, Cavaco apareceu, imóvel, mais centrista.

domingo, 30 de maio de 2010

Um candidato de conveniência

Para quem, como eu, participou, há 5 anos, na campanha presidencial de Mário Soares, não é difícil prever o que se vai passar com a candidatura de Manuel Alegre, agora com o apoio dos dirigentes do PS.

sábado, 29 de maio de 2010

A caminho da Hungria

A sondagem do Diário Económico, que «dá» o PSD a caminho da maioria absoluta, e o PS a quedar-se nos 28%, leva-me a relembrar o que aqui escrevi sobre as últimas eleições na Hungria que deram uma vitória estrondosa à direita depois das medidas do FMI terem sido aplicadas com «coragem» por um governo socialista.Qual será então a recompensa para esses políticos tão bravos?

Nunca perder eleições

Os Ladrões de Bicicletas e o Politeia, dois blogues a ler sempre, exibem um video com uma importante intervenção de Cohn Bendit no PE. Este chama a atenção para a desrazoabilidade do que se está a pedir ao governo grego, e cita o exemplo de políticos que perderam eleições por muito menos.Aponta para Durão Barroso, que faz sinais, negando.« Não,Barroso nunca perdeu eleições.» enfatiza Cohn Bendit.Assim se mata um político.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Prova das 9

Estive quarta-feira no programa de debate da RTP-Açores, Prova das 9, excelentemente conduzido pelo jornalista Rui Goulart, e com a participação dos comentadores fixos Gilberta Rocha, Álvaro Borralho e Bastos e Silva.Há sempre um convidado diferente.Desta vez fui eu. O clima de cordialidade criado é um incentivo à troca de opiniões diversificadas.Raramente os intervenientes falam uns sobre os outros, sem deixarem de defender os seus pontos de vista com vigor.Um exemplo para muitos moderadores e para alguns programas do género.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Por o dedo na ferida

Uma dos destaques do relatório da Amnistia Internacional sobre os direitos humanos no mundo em 2009 para Portugal é violência contra mulheres e raparigas, onde constam os 16 mil casos registados no ano passado pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV).
Ainda ontem, Teresa Magalhães, autora do livro "Violência e Abuso - Respostas simples para questões complexas" (que é hoje lançado) e responsável da Delegação Norte do Instituto Nacional de Medicina Legal. recordava como ainda banal e contagioso este tipo de agressão: "Viram os pais fazerem às mães, os vizinhos a fazer às vizinhas, e acham que é assim que se tratam as mulheres"; “Há muitas mulheres que continuam a achar "normal apanharem dos maridos"."As nossas famílias são espaço frequente de violência".
Hoje, um estudo da Associação Portuguesa de Mulheres Juristas conclui que raramente os tribunais recorrem à vídeo-conferência - prevista na lei de protecção de testemunhas nos casos de violência doméstica - obrigando as vítimas a testemunhar na presença dos agressores.

Acto falhado.

Por lapso, a primeira opção da sondagem à vossa esquerda ficou "Entre Julho e Outubro de 2010". Deveria ser 2011. Na verdade, o erro corresponde à minha própria preferência. Já está corrigido, mas a votação voltou à estaca zero. As minhas desculpas a todos os que já tinha votado. Podem repetir ; )

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Quando serão as legislativas?


A primeira sondagem do Córtex Frontal perguntava quem governa o país. A maioria (42%) respondeu que “Todos e Sócrates aos domingos, dias santos e feriados".  
A distribuição dos restantes votos foi a seguinte:
Mercados e agências de rating- 17%
Bruxelas- 13 %
Ninguém- 13%
O PSD- 2%

Agora, a nova sondagem pergunta quando serão as próximas legislativas.

De cortar à faca

O prolongamento do subsídio social de desemprego por mais seis meses, medida destinada aos desempregados mais pobres, vai ser cortado. O prazo mínimo de descontos para se ter acesso ao subsídio de desemprego vai passar a 450 dias. A majoração de 10 % do subsídio atribuído aos desempregados com filhos e o reforço do abono de família para os desempregados com rendimentos mais baixos também serão cortados. Acabam ainda os apoios à requalificação de cinco mil jovens licenciados em áreas de baixa empregabilidade e  o reforço de 14 milhões de euros destinado à linha de crédito bonificada para os desempregados criarem a sua própria empresa. Fim tem também a  redução de três pontos percentuais das contribuições pagas pelas pequenas empresas por cada trabalhador com mais de 45 anos
Ou seja, em plena crise a faca vai para oito medidas de apoio aos desempregados criadas há uns meses apenas. O Conselho de Ministros desta quinta-feira vai decidir a data em que as medidas vão ser retiradas. Avaliando pelos anteriores processos de calendarização e detalhe (IRS, obras públicas, transportes) prevê-se nova trapalhada. Seja como for, Sócrates acaba de lançar o maior apelo à manifestação deste Sábado.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Nem sequer foi uma boa exibição...

Sinceramente não acho que Cabo-Verde tenha feito uma boa exibição contra Portugal.Não podemos estar sempre a falar bem dos outros e a desculpá-los com o pouco tempo de «entrosamento», sobretudo sem nada saber sobre como e onde decorreu o estágio da equipa insular.Foi uma pelada, foi o que foi...

segunda-feira, 24 de maio de 2010

AS PARASITAÇÕES PÚBLICO-PRIVADAS

Portugal recorreu às parcerias público-privadas (PPP) mais do que todos os outros países da UE em termos de percentagem do PIB, por exemplo, 3 vezes mais do que a França. As PPP tornaram-se na regra, quando os outros países europeus continuam a usar esses contratos excepcionalmente. Só que, como defende a ex-controladora financeira do Ministério das Obras Pública no Público, as PPP não são uma panaceia, não podem servir contratar todo o tipo de serviço público em todas as circunstâncias.
No final de 2009, as estimativas globais de investimento nos projectos contratados ascendiam, em termos acumulados, a 28 mil milhões de euros. Em 2017, caso avançassem todos os investimentos que anunciados ultrapassar-se-ia a fronteira dos 50 mil milhões, o equivalente a contratar um projecto de alta velocidade por ano. É esta a fórmula mágica paga pelo Estado e aplaudida pela clientela do poder que tem sido seguida pelos sucessivos governos nos últimos 15 anos.
Vale a pena recordar estas declarações de Carlos Moreno ao Jornal de Negócios. Este juiz conselheiro do Tribunal de Contas, recentemente jubilado, conhece bem a gestão de recursos financeiros em empresas públicas e PPP e afirmou que o Estado não tem força suficiente para se defender da pressão dos bancos nessas parcerias. Aliás, o Tribunal de Contas tem avisado que as PPP assentam em contratos opacos, em mecanismos de monitorização muito frágeis e numa negociação com um número muitíssimo restrito de empresas do regime. Como também refere Mariana Abrantes, essa opacidade verifica-se na fase de contratualização mas, sobretudo, na fase posterior, nas renegociações e nos reequilíbrios financeiros.
Como das estradas aos hospitais, das pontes às barragens, não sobra área da provisão pública que não tenha sido abandonada à avidez, quer o interesse público quer a transparência orçamental vão às malvas. O Estado paga uma renda durante décadas, prestações encarecidas por um risco que, afinal, é assumido só pelos contribuintes. Os privados investem, controlam os equipamentos públicos e têm lucros garantidos. Mas depois passam o tempo a queixar-se do peso excessivo do Estado...

Coligações governamentais

Perguntam-me se deve haver em Portugal um bloco central.Respondo que, quando for precisa uma coligação , ela deve ser de natureza mais geral..Mas acho mais urgente uma mudança de coligação na Alemanha com a saída dos liberais e a entrada do SPD.Daria outros resultados em termos europeus...

Bloco das tangas


Passos Coelho revelou que numa noite abdicou de contrariar o aumento de impostos, em troca do Governo adiar algumas obras públicas que defendia. Rápida mudança de convicções. E em menos de 24 horas o PSD alterou a sua ameaça de uma moção de censura (caso a Comissão de Inquérito concluísse que Sócrates mentiu), para a formalização do fim desses trabalhos. Aliás, o presidente social-democrata especializou-se em ser oposição de manhã e vice-primeiro-ministro à tardinha. Ou seja, o Bloco Central encontra-se numa relação do tipo é só uma noite (de cada vez). E não assume um compromisso.
É um laço tenso. Sócrates quer liderar os passos. Mas precisa do par e arrisca-se a que pareça que já não governa. O líder do PSD quer dois passos à frente e um atrás: tanto as piscadelas e a imagem de responsabilidade, como a imputação apenas ao governo das pisadelas aos portugueses. Mas ainda tropeça na pirueta. Enfim, até às presidenciais, haverá mesmo um tango, coreografia dura de rostos virados, braço de ferro bailado, em que ambos farão uma prova de resistência.
 Depois, PS e PSD ou vão do tango ao Kung Fu, ou oficializam a aliança. Mas nessa altura o país já estará de tanga. A não ser que, entretanto, uma outra resistência venha para a rua dançar.

Publicado aqui.

domingo, 23 de maio de 2010

Crime em Ponta Delgada

O felizardo do Pedro Correia encontrou, no último dia da Feira do Livro, o derradeiro exemplar do livro do Francisco José Viegas, Crime em Ponta Delgada, que considero uma espécie de fonte histórica sobre o clima político e social que se viveu na ilha de S.Miguel nos anos de braza da revolução e do separatismo.Tenho-o procurado em vão, para oferecer aos meus amigos, e não só.O Francisco anda a prometer-me uma nova edição , mas com aquele ar malandro de quem não se compromete...

sábado, 22 de maio de 2010

Uma boa iniciativa

Leio que o Ministro das Obras , António Mendonça propõe uma reunião tripartida entre Portugal, Espanha e França para sensibilizar Bruxelas a considerar a linha de TGV Lisboa-Madrid-Paris prioritária em termos de financiamentos comunitários.Defendi essa iniciativa no Ateneo de Barcelona, numa conferência organizada pelo Consul-Geral Futcher Pereira em Novembro do ano passado. Como, aliás, dei conta nos Bichos Carpinteiros.

Harold Pinter e Jorge Silva Melo no CCB

Hoje em dia vou mais vezes ao teatro do que ao cinema.Tenho um velho amor pelo teatro, e cheguei a escrever umas pecinhas inspiradas em Pirandello quando tinha vinte anos.O texto e a interpretação ocupam o núcleo central da minha atracção.O repertório de uma companhia, ou de uma cidade, fornecem-me matéria de reflexão sobre o estado da arte e da sociedade.Por todas essas razões assisti com intensidade à primeira parte do espectáculo no CCB com alguns dos últimos textos de Harold Pinter.Comemoração é um encanto de coisas banais sobre gente fútil.
Nova Ordem Mundial, sobre a tortura, logo a seguir, como no «alinhamento» de um telejornal em que tudo se mistura em poucos minutos, é um soco no estômago.Abraço para o Jorge Silva Melo.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

O Bloco Central bem espremidinho

Não foram 7 dias, antes 15 anos...

mas tinha que ser agora, quando Bento 16 já foi embora?!

Sanções, procuram-se

Berlim e Paris não acertam com as sanções a aplicar ao flanco sul da Europa.O governo alemão quer seguir a via da multa financeira aos países com dificuldades orçamentais, acrescentando dívida à dívida como se costuma dizer.Já Sarkosy é adepto de uma sanção mais política: a suspensão do direito de voto nos conselhos de ministros da UE para aqueles Estados membros.Tudo em nome do euro.E do directório.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Dispor do sacrifício dos outros

Ontem, na entrevista ao primeiro-ministro, Judite de Sousa e José Alberto de Carvalho chegaram fatalmente aos cortes nos ordenados dos políticos.Eles que devem ganhar mais do que qualquer governante.Há aliás muita gente em Portugal a opinar e a dispor do sacrifício dos outros como quem tem bula para o que der e vier.E não me refiro só aos jornalistas.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Moção de Censura preventiva?

O PCP apresentou uma moção de censura dentro da mais estrita lógica partidária.Não esperou pelo fim da comissão de inquérito, não esperou por nenhum outro apoio parlamentar.Apresenta as suas razões contra o governo com chumbo certo.Para se desobrigar de votar alguma outra que apareça com pressupostos diferentes? Para guiar a contestação social na rua?

Saldanha Sanches

Não sabia que Saldanha Sanches estava doente.A última vez que o vi foi na ópera.A primeira na cantina da cidade universitária em 1963.Pertencia a um grupo de estudantes vanguardistas e muito cultos como Salgado Matos ou João Bernardo que discutiam até à exaustão os mais árduos temas ideológicos da altura.Voluntarioso, foi preso, em 1964, de uma forma assaz diferente da tipologia da repressão exercida sobre os estudantes pela polícia política: atingido a tiro quando distribuía, na baixa de Lisboa, propaganda revolucionária.Foi expulso de todas as universidades portuguesas em 1965, num processo disciplinar movido pelas próprias autoridades universitárias em que também fui atingido. Foi então que lhe perdi o rasto.Presumo que desiludido com a actividade política depois do 25 de Abril retomou a carreira universitária na sua madrasta Faculdade de Direito. Nunca o vi deixar-se amachucar nem por uma coisa nem por outra.Seguia uma espécie de destino pessoal que lhe dava muita força e altura de vistas.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

No aniversário dos Bichos

Um blogue dedicado a datas recorda que os Bichos Carpinteiros fazem hoje cinco anos.Tem mais do que a maioridade em termos blogosféricos.É meio-irmão do Córtex, e continua a receber visitas, e colaboração sentimental.De vez em quando perguntam-me por ele.Lá está.Com o nome de todos os colaboradores que lhe queiram dar vida.

Vontades sem rumo

No que diz respeito à União Europeia, a crise da zona euro veio demonstrar que das novas figuras das reformas do Tratado de Lisboa fica apenas, e por enquanto, a ponderação de votos no Conselho de Ministros.A justaposição de presidentes da União e do Conselho é um desastre cumulativo.O próprio presidente da Comissão perde a pouca força política que adquiriu com Jacques Delors.Como sempre ninguém é responsável por coisa alguma quando as coisas correm mal a nível europeu.Nem o directório funciona.Está na hora do Parlamento Europeu, mas quem acredita?

domingo, 16 de maio de 2010

EMPAPADOS

O papa citou o cardeal Cerejeira, homenageando a ditadura de Salazar. O Estado surgiu curvado em vassalagem e oportunismo. A comunicação social rejubilou incessantemente com detalhes patéticos. Meio país entreteve-se com a bola, a festa que foi e o mundial que virá. O governo, engajado com o PSD e Bruxelas mais feudal que federalista, optou por castigar quem ganha 5 e poupar quem leva 5000, garantindo que não há alternativa.
No centenário da República, quase quatro décadas após o 25 de Abril, eis Portugal dirigido por gente sem rasgo ou coragem, a insistir na pá que nos cava o túmulo e que já perdeu a vergonha ou até o medo do ridículo. Sócrates diz que a nossa economia está bem, mas como os outros estão a controlar o défice, temos de fazer o mesmo. Passos Coelho pede desculpas pelas medidas que defende. Tudo isto seria hilariante não fosse o aumento de impostos praticamente igual para todos, o aumento geral do IVA ou os cortes do défice sempre à custa dos salários e nunca dos lucros, levar quem apertou o cinto tantos anos, a ter de agora apertar a garganta. Assim, não é cómico. É uma tragédia. Provavelmente, grega. 

Publicado no Correio da Manhã

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Uma boa notícia

Gosto de feiras do Livro, em particular a de Lisboa, que se realiza numa quadra do ano em que as quatro estações são possíveis.Frio, chuva, sol tropical e vento crespuscular fazem parte do certame.Este ano só tinha dado duas pequenas escapadelas ao Parque.Ontem estava um frio de rachar.Levei a minha neta que associa a Feira a palhaços e cambalhotas, mas já gosta de levar o seu dinheiro para comprar um livro da sua escolha. Ontem foi a correr.Hoje foi noticiado que a Feira do Livro em Lisboa vai funcionar mais uma semana.Voltarei.

Patético

As decisões para combater a crise financeira e bancária são tão erráticas que ninguém poderá saber ao certo quais serão as certas e as erradas.Mas o pedido de desculpas de Passos Coelho pelo aumento de impostos a decretar pertence de certeza ao mundo do patético.

O milagre do radar

O Correio da Manhã, na sua edição de ontem, noticia que os radares da FAP detectaram um «eco» nos céus de Fátima a poucas milhas do helicóptero que transportava o Papa o que levou à descolagem efectiva de caças F16 para o que desse e viesse. Mas o fenómeno foi da natureza do invisível.Mais um pouco e era um milagre captado por um radar...

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Quem governa o país?

Para responder, vote na sondagem no lado esquerdo.
a) Ninguém
b) Bruxelas
c) A banca
d) O PSD
e) Os mercados e as agências de rating
f) Esses todos e Sócrates aos Domingos, dias santos e feriados.

E o monumento ali tão perto...

Ao ler as palavras do Cardeal Patriarca e de BentoXVI na celebração do Terreiro do Paço reparei que nenhum deles se referiu ao Cristo-Rei ali tão perto e monumental, na outra margem do rio que foi citado.Terá algum significado a omissão?Tratou-se de uma arbitragem entre dois lugares de culto? Muito gostava de ouvir o parecer do
Tomás Vasques...

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Directo ao Assunto.

Hoje, o debate é sobre os cortes no investimento público, salários, 13º mês. E, claro, sobre a visita papal. Lá estarei com o João Adelino Faria, o Carlos Abreu Amorim e o Emídio Rangel, na RTP N, 23 horas.

Brain Food

Populismos, por Pedro Sales, no Arrastão. E Perguntar não ofende, de Nuno Ramos de Almeida, no 5 dias.

Náusea

"Por acaso teria sido uma boa ideia referir o facto de hoje termos tidos grandes notícias de crescimento económico em Portugal e isso poder associar-se à visita do Papa a Portugal», disse Sócrates aos jornalistas.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Do centenário da República a Fátima

Estou a ouvir o primeiro discurso de BentoXVI em Portugal.Confesso que tenho um «fraco» pela frieza de pensamento de Ratzinger, e já li o suficiente para o apreciar como intelectual.O discurso foi mais do que politicamente correcto: fez uma referência ao centenário da República em Portugal, o que muitos fundamentalistas não lhe vão perdoar,elogiou a separação da Igreja e do Estado, disse claramente que não foi a Igreja Católica quem impôs Fátima, mas Fátima, ou seja a religiosidade popular, quem se impôs à hierarquia católica.Um racionalista crente ainda me faz mais confusão.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Duas notas sobre euronotícias

-Todos falam na derrota deAngela Merkel nas eleições regionais do Norte-Vestefália, quando a grande derrotada foi a coligação federal CDU-FDP.Os liberais ainda não perceberam o que se espera de um governo em tempos de crise, e são os vencidos do dia.Os milhões de votantes renanos viraram-se para a esquerda, e deram a vitória ao SPD, aos Verdes e ao Die Linke.E não foi por pouco.
_ Ninguém quer perceber o que significa a presença de tropas da NATO -ingleses, franceses, norte-americanos-nas celebrações russas da vitória dos Aliados na II Guerra Mundial em Moscovo.Como não perceberam o alargamento da NATO na Europa Central e Oriental.Esperemos que não tenham de «ver, claramente visto.».

domingo, 9 de maio de 2010

A fé & os factos

Nem a diplomacia, nem o facto de a religião católica ser a mais expressiva no país (10% de praticantes), justificam a violação dos princípios laicos constitucionais. Mas Governo e autarquias financiam a visita de Bento XVI e dão tolerâncias de ponto. A papa não é para todos: os funcionários públicos gozam férias, os outros têm que tirar um dia para ficarem com os filhos (escolas públicas fechadas). Como mais serviços serão reduzidos/entupidos, por exemplo trajectos e transportes, quem trabalhar terá outras dificuldades. Nomeadamente, ir parte a pé. Deve ser promessa. Já o Presidente da República recebe Ratzinger como chefe de Estado e como líder religioso (oficializando o catolicismo).
Eis o regresso da moribunda mas não saudosa (como se vê) cooperação estratégica: um rombo político. E económico. Parar o país um só dia é perder dezenas de milhões de euros. Somem-se outros gastos (segurança, festarola) e compare-se aos cortes nos subsídios de desemprego. É fazer as contas…em S. Bento e em Belém, onde vai, na véspera da visita papal, uma procissão de ex-ministros das finanças contra as obras públicas. Cavaco, que os recebe e aplaude, podia também contabilizar esta santa subtracção aos nossos cofres. Até porque no mealheiro do santuário de Fátima o Estado não toca…

Obras públicas e obras políticas

O processo de decisão sobre as chamadas grandes obras públicas dava um ensaio sobre a importância do mundo virtual na política.Só o facto de não existir quase nada de material no terreno permite tanta discussão política e técnica, e tantas decisões variadas em obras de estaleiro como o aeroporto, a terceira travessia do Tejo, o TGV, etc.Governo, oposição, economistas, financeiros, o próprio PR., debruçam-se sobre um mapa de intenções e esgotam-se a redesenhá-lo.
Este espectáculo dura há anos.Ainda nos lembramos da decisão sobre a localização do novo aeroporto. Da Ota a Alcochete gastou-se um tempo precioso.Agora o aeroporto foi adiado.Depois foi a localização da terceira travessia do Tejo, e sempre o TGV, embora mudando frequentemente de trajecto, com a excepção óbvia da linha Madrid-Lisboa.Depois de Bruxelas, e de Ricardo Salgado, terem abandonado à sua sorte as grandes obras públicas virtuais, José Sócrates manteve a única para a qual tem um aliado de peso, no TGV, e talvez na discussão europeia que se aproxima: a Espanha.

sábado, 8 de maio de 2010

Da esquerda governamental

A derrota do Partido Trabalhista na Inglaterra não foi tão severa como a do Partido Socialista na Hungria, mas insere-se na mesma lógica de despedimento da esquerda governamental europeia.No caso do Partido Trabalhista é a terceira-via de Tony Blair que se esgota nas mãos de Gordon Brown.Regressem com novas ideias, e descolonizados.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Volta-te, Matas.

Nos últimos anos, Vila-Matas parece estar sempre a escrever o último livro da sua vida. Cada um é uma espécie de póstumo em que ao quotidiano ficcionado (pormenores da vida ao sabor de uma “imaginação vaidosa” ), acrescenta-se uma lista de autores como Barthes, Faulkner, Balzac, Céline, até Agatha Christie, para não falar no já inevitável Fernando pessoa e na sua centenária irmã (que não levava a sério os heterónimos do mano). A receita da “literatura sobre literatura” foi inventada por Borges. Nas mãos de Matas fica uma versão intelectual light. Entre o cardápio de livros e as crónicas do umbigo. Não é mau. Mas não mata saudades das suas primeiras ficções.

Versão do originalmente publicado aqui.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Até aos coronéis?

Ontem, no programa Directo ao Assunto, a Joana Amaral Dias recordou que a Grécia pediu a adesão à então CEE após se ter desembaraçado da ditadura dos coronéis em 1974.Foi mesmo o primeiro país saído de uma ditadura ocidental que o fez, e, apoiada sobretudo pela França, entrou no «clube dos ricos» em 1981.A CEE dava assim um passo em frente como «clube democrático» europeu, e não se contentava com um«mercado comum», mais ou menos transparente. Em 1986 entraram Portugal e a Espanha , depois de uma negociação longa e exigente.O facto da Comunidade Europeia ter integrado esses Estados que tinham sido ditaduras, encorajou as de leste a ter essa meta em consideração.
Pelo caminho que as coisas estão a tomar em Atenas, quem sabe onde irá parar o regime político na Grécia?Será que uma ditadura dos coronéis volta a dar jeito a alguém no flanco mediterrânico?

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Directo ao Assunto.

Como é hábito, hoje às 23 horas, estarei com o João Adelino Faria, o Emídio Rangel e o Carlos Abreu Amorim na RTP Notícias para discutir os investimentos públicos, a situação na Grécia/consequências para Portugal e a candidatura de M. Alegre.

Ouvir Alegre pela rádio

Ouvi o discurso de Manuel Alegre na rádio.Dedicarei o meu artigo de sexta-feira no
Correio da Manhã ao tema. Como primeira impressão diria que Alegre se está a colocar na situação de Mário Soares há cinco anos.Veremos o resultado.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Cidadãos pela Laicidade

Senhor Presidente da República Portuguesa,

Nós, cidadãs e cidadãos da República Portuguesa, motivados pelos valores da liberdade, da igualdade, da justiça e da laicidade, manifestamos, através da presente carta, o nosso veemente protesto contra as condições – oficialmente anunciadas – de que se revestirá a viagem a Portugal de Joseph Ratzinger, Papa da Igreja Católica.

Embora reconhecendo que o Estado português mantém relações diplomáticas com o Vaticano e que a religião católica é a mais expressiva entre a população nacional, não podemos deixar de sublinhar que ao receber Joseph Ratzinger com honras de chefe de Estado ao mesmo tempo que como dirigente religioso, o Presidente da República Portuguesa fomenta a confusão entre a legítima existência de uma comunidade religiosa organizada, e o discutível reconhecimento oficial a essa confissão religiosa de prerrogativas estatais, confusão que é por princípio contrária à laicidade.

Importa ter presente que o Vaticano é um regime teocrático arcaico que visa a defesa, propaganda e extensão dos privilégios temporais de uma religião, e que não reúne, de resto, os requisitos habituais de população própria e território para ser reconhecido como um Estado, e que a Santa Sé, governo da Igreja Católica e do «Estado» do Vaticano, não ratificou a Declaração Universal dos Direitos do Homem – não podendo portanto ser um membro de pleno direito da ONU – e não aceita nem a jurisdição do Tribunal Penal Internacional nem do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, antes utilizando o seu estatuto de Observador Permanente na ONU para alinhar, frequentemente, ao lado de ditaduras e regimes fundamentalistas.

Desejamos deixar claro que, se em Portugal há católicos dos quais uma fracção, mais ou menos importante, se regozijará com a visita de Joseph Ratzinger, há também católicos e não católicos para quem o carácter oficial da visita papal, o seu financiamento público e a tolerância de ponto concedida pelo Governo, são agressões perpetradas contra os princípios de laicidade do poder político que a própria Constituição da República Portuguesa institui.

Esta infracção da laicidade a que estão constitucionalmente vinculadas as autoridades republicanas torna-se ainda mais gritante e deletéria quando consideramos que se celebra este ano o Centenário da Implantação da República, de cujo legado faz parte o princípio de clara separação entre Estado e Igreja, contra o qual atentará qualquer confusão entre homenagens a um chefe de Estado e participação oficial dos titulares de órgãos de soberania em cerimoniais religiosos.

Declaramos também o nosso repúdio pelas posições veiculadas pelo Papa em matéria de liberdade de consciência, igualdade entre homens e mulheres, auto-determinação sexual de adultos, e outras matérias políticas.

Porque nos contamos entre esses cidadãos que entendem que a laicidade da política é condição fundamental das liberdades e direitos democráticos em cuja defesa e extensão estão apostados, aqui deixamos o nosso protesto e declaramos a Vossa Excelência o nosso propósito de o mantermos e alargarmos através de todos os meios de expressão e acção ao nosso alcance enquanto cidadãos activos da República Portuguesa.

Assine aqui.

Beija-mão


 Já não bastava o Papa. Para a semana, também há beija-mão lá para os lados de Belém, quando Cavaco Silva receber a excursão tipo viagem a Santiago de ex-ministros das finanças. É muito, muito, mas mesmo muito lindo. Estes ex’s, responsáveis pela situação em que nos encontramos, apresentam-se agora como os grandes salvadores da pátria. Estes (quase todos economistas) cujo rating é para aí um C-, visto que tal como os seus colegas, foram incapazes de prever a crise e muitos estiveram directamente envolvidos nas suas causas, se calhar até esperam que lhes agradeçamos disporem do seu rico tempinho para irem debitar mais umas (perigosas) banalidades. Estes senhores que nem no fim do jogo sabem fazer prognósticos (Cavaco já promulgou o decreto-lei para a concessão do troço ferroviário de alta-velocidade) querem, afinal, o quê? 
Protagonismo, ribalta? Talvez. Já as intenções eleitoralistas do Presidente da República são, essas sim, muito fáceis de prever.

Imortal Imaginação

Se quer ver mais do mesmo, desista de ‘Parnassus'. Se está disposto a deixar-se levar num carrossel cujo cavalo, a qualquer momento, salta fora e leva-o para outra dimensão, seja bem-vindo.
O autor, Terry Gilliam, é conhecido pelas colagens surrealistas e psicadélicas das suas animações para os saudosos ‘Monty Python'. Além disso, criou um cosmos cinematográfico. ‘Parnassus' prolonga a batalha contra o cinzentismo do seu épico orwelliano ‘Brazil' (1985) ou as quimeras "infantis" das 1001 noites de ‘A Fantástica Aventura do Barão Munchausen' (1988). Agora, munido da artilharia digital, Gilliam torna o incrível em crível.
‘Parnassus' era um homem sábio que, quase imóvel num convento, contava histórias. Acreditava que elas são o tecido que sustêm o universo. Ele existe se existir ficção. Porque é na fantasia que está a verdade. Três mil anos depois, ‘Parnassus' continua vivo. Mas decrépito, porque, no século XXI, poucos se interessam por histórias e a sua arte reduz-se a um teatrinho caduco e itinerante. Mesmo que ‘Parnassus' convide a transpor um espelho, género o de ‘Alice', atrás do qual está a imaginação do próprio espectador. Que proponha que cada um conte a si mesmo a sua história.
Pior é o outro motivo pelo qual ‘Parnassus' está decadente. Como numa fábula de ‘Fausto', fez um pacto com o Diabo e trocou a filha pela imortalidade. O mago devolve ao público a alma, mas arrisca-se a perder a sua. É desta luta entre o Mal e o Bem, entre o Diabo (formato Tom Waits) e Deus (formato sem-abrigo), entre o materialismo e a imaginação que se enrola o enredo. O fantástico de Gilliam expande-se. Há quem reduza este filme a Heath Ledger, que morreu durante as rodagens. Mas é a imagem a estrela desta longa-metragem.
Até pode ser que Ledger seja como James Dean e todos os que, como diz uma personagem, têm vida eterna porque nem a morte é permanente. Ou porque plantaram árvores, filhos (renegados por ‘Parnassus') e livros (histórias). Tal como Gilliam, cuja capacidade narrativa se revela, inclusive, na tenacidade inventiva com que conseguiu terminar a obra, tendo perdido o actor.
‘Parnassus' é o próprio realizador, gerador de paisagens, estéticas e heróis excêntricos. Talvez inspirado no Parnassus mitológico, o fundador de Delfos, que via o futuro no voo dos pássaros, o pai dos poetas. No século XVI, Rafael pintou-o como o paraíso da Renascença. No século XIX, escritores deram o seu nome a uma corrente que defendia a arte pela arte, a forma como a essência e objectivo da arte, em oposição à arte útil.
É esse o ‘Parnassus' de Gilliam. Aquele que ainda existe porque sobre ele se continuam a contar longas histórias.

(Imagem: Parnassus de Mantegna, 1496)

Destino Mercado?

A História, inclusive a do século XX, acumula momentos de absoluta irracionalidade. Depois, a Humanidade pergunta "como foi possível?" e tenta justificar o ilógico. Tal como agora.

Economistas e agências de rating perderam toda a credibilidade. Às portas da crise, aconselharam investimentos tóxicos ou em países que logo faliram. Seguiu--se uma sangria. Como explicar que hoje determinem a credibilidade das Repúblicas? Ou que Portugal, com uma dívida pública abaixo da média europeia, seja o alvo? Ou que se poupe e ajude com dinheiros públicos os causadores da crise, enquanto se castiga trabalhadores e desempregados, vítimas vistas como parasitas? Como explicar que, contra todas as provas, muitos governantes ainda acreditem no mercado e por ele sacrifiquem os mais fracos?
Como é que Sócrates e Coelho falam do "ataque especulativo sem fundamento" e apresentam cortes nos subsídios de desemprego como salvação? Uma especulação sem fundamento, uma crença, leva à penitência de mais uns ‘bodes expiatórios’? Como explicar que o primeiro-ministro aplique essa medida embora desconheça os seus efeitos financeiros, e ainda que os efeitos sobre muitos sejam certinhos? Explica--se pela cobardia e irracionalidade. Mas não basta explicar. E melhor do que lamentar a História é mudá-la. Bom 1º de Maio.

Inês de Medeiros presta um serviço à AR

Inês de Medeiros anunciou que renuncia ao direito que lhe foi concedido pela AR do pagamento de viagens para Paris, cidade onde reside, dando um exemplo de alguém que se preocupa mais com o prestígio do parlamento e do regime democrático do que com qualquer outro aspecto de natureza pessoal ou política.Uma demonstração de bons reflexos cívicos.Depois desta atitude de Inês de Medeiros a AR pode regulamentar situações semelhantes sem ânimo persecutório ou aparência de favorecimento.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

A reboque

Finalmente os países da zona euro resolveram-se a suprir as deficiências do orçamento comunitário e das atribuições do Banco Central Europeu concedendo um grande empréstimo à Grécia, não só para socorrer esta, mas sobretudo para salvar a moeda continental.Foram a reboque dos acontecimentos, perdendo tempo e câmbio. A parceria com o FMI era fatal.Portugal teve uma experiência semelhante, em 1977-1978, com a «Operação Grande Empréstimo» de concepção norte-americana que esbarrou com a proposta tecnocrática europeia no sentido de a enquadrar num acordo stand-by com o FMI.Não culpem sempre os EUA que já resolveram as rupturas orçamentais de Estados federados como o de New York e o da Califórnia sem internacionalizarem a crise.Cada um tem a zona monetária que merece?

sábado, 1 de maio de 2010

Governar de fora

Da leitura dos jornais retiro que há muita gente a querer governar o país de fora sem se responsabilizar pelos resultados das suas propostas. Façam lá um sacrifício, ponham as mãos na massa...

Gosto