quarta-feira, 27 de abril de 2011
AMOR À PATRIA
Em toda a Europa, discutem-se novos caminhos para a sua construção, a intervenção em Portugal (nomeadamente considerando o fracasso na Grécia e na Irlanda), debate-se a criopreservação da democracia que essas operações têm implicado. Por cá, impera o consenso. E ainda se pede à troika que interfira estruturalmente no Estado, desde direitos sociais a questões fiscais. Roga-se-lhe que, sem ser eleita, governe o país.
Há quem pense que este coro se deve ao messianismo sebastiânico. Outros acreditam que se trata da espinha partida por quase meio século de ditadura. Alguns crêem que se deve a esse provinciano deslumbre pelo estrangeiro. Ou que, simplesmente, é uma admissão de incompetência. Nada disso. É tudo por amor. “Compromissos Portugal”, governos de salvação nacional, garantir o apoio dos maiores partidos para que o resultado das legislativas não altere as imposições externas, desprezar a vontade popular, tudo isso e muito mais é por amor. Afinal, adaptando uma velha tirada, se tivessem graça e franqueza (uma elevada improbabilidade, reconheça-se), à pergunta “Comprometeram-se pelo país por amor ou por interesse?” esses pastores unanimistas responderiam: “Deve ter sido por amor, porque interesse não tínhamos nenhum.”
Mais uma pausa
Mais uma pausa minha aqui no Córtex.Mas ainda tive tempo de ir à Bertrand avistar o promontório do Moledo na perpectiva de António Sousa Homem, e da sua sobrinha Maria Luísa, ambos muito bem representados por Francisco José Viegas e pela Joana Amaral Dias...
segunda-feira, 25 de abril de 2011
Uma boa ideia
Com a dissolução da legislatura as comemorações do dia 25 de Abril foram obrigadas a romper com hábitos instalados.A ideia de Cavaco Silva em convidar os antigos presidentes a discursar em Belém apaziguou os espíritos desconfiados.Estou com curiosidade em seguir a liga dos presidentes.
sábado, 23 de abril de 2011
Por que cai o Presidente?
O Presidente deu um grande tombo no barómetro da Markteste.O maior desde o ano dois mil, onde havia menos que contar.Mas não deixa de ser surpreendente que Cacaco Silva mal tenha dissolvido o parlamento por uma espécie de dupla unanimidade dos partidos e dos conselheiros de Estado se veja envolvido neste descontentamento cruzado.Por que cai o Presidente? Deve ter ficado algo por esclarecer.Um vazio qualquer de poder...
sexta-feira, 22 de abril de 2011
O meu deputado inesquecível
Conheci Jorge Strech Ribeiro nos idos dos anos sessenta, entre Lisboa e Coimbra.Mais Vává do que o Choupal, para dizer a verdade.O teatro dava para muito mundo nessa altura.O Citac e o Teuc despertaram mais vocações políticas e revolucionárias do que teatrais.
Até 1980 praticamente não mais me cruzei com o «Strech».Mas lembro-me muito bem de uma «negociação» nesse ano para apoio do General Eanes.
Foi porém em 1995 que a nossa amizade geracional retomou todo o seu sentido no grupo parlamentar do PS.Responsabilidade e firmeza marcaram um número informal e impreciso de consciências livres e alertadas que discutiam, apresentavam projectos, declarações de votos, votações ditadas pela liberdade de consciência.Foram dez anos de combates suplementares, mas onde ainda havia liberdade, entusiasmo e alegria de viver.
O meu tempo de deputado terminou em 2005 no momento certo para mim.Mesmo assim, embora não alimentasse qualquer ilusão sobre os novos tempos, sabia que lá no fundo o Jorge Strech não se conseguiria domesticar inteiramente e manter-se-ia até ao fim como um rebelde tranquilo.
Agora desapareceu das listas em que ninguém o tivesse saudado como mereceria.
PS-Marques Júnior que se alimentava das mesma seiva também foi abatido ao efectivo.Mais ou menos pela mesma cultura dominante.
Até 1980 praticamente não mais me cruzei com o «Strech».Mas lembro-me muito bem de uma «negociação» nesse ano para apoio do General Eanes.
Foi porém em 1995 que a nossa amizade geracional retomou todo o seu sentido no grupo parlamentar do PS.Responsabilidade e firmeza marcaram um número informal e impreciso de consciências livres e alertadas que discutiam, apresentavam projectos, declarações de votos, votações ditadas pela liberdade de consciência.Foram dez anos de combates suplementares, mas onde ainda havia liberdade, entusiasmo e alegria de viver.
O meu tempo de deputado terminou em 2005 no momento certo para mim.Mesmo assim, embora não alimentasse qualquer ilusão sobre os novos tempos, sabia que lá no fundo o Jorge Strech não se conseguiria domesticar inteiramente e manter-se-ia até ao fim como um rebelde tranquilo.
Agora desapareceu das listas em que ninguém o tivesse saudado como mereceria.
PS-Marques Júnior que se alimentava das mesma seiva também foi abatido ao efectivo.Mais ou menos pela mesma cultura dominante.
quarta-feira, 20 de abril de 2011
O FMI ainda é expulso da UE
O relatório semestral do FMI, publicado a 15 deAbril não traz boas notícias para o sistema bancário europeu no seu conjunto.O relatório chama a atenção para um «muro da dívida», cuja maturação ocorrerá dentro de dois anos,com acrescidas necessidades de refinanciamento, sobretudo da banca privada alemã e da irlandesa.O racio do capital próprio dos bancos também não se apresenta saudável.
Chama-se a isto viver perigosamente.
Chama-se a isto viver perigosamente.
terça-feira, 19 de abril de 2011
Cabeça de lista por Leiria
Na tipologia dos cabeças-de-lista, há muito que ganhou direito de malícia o número um pelo círculo de Leiria, pelo menos no que diz respeito às listas do PS.Não sei quantos já passaram pelo lugar.Agora é Basílio Horta que se estreia nas lides.Mas não é caso para escândalo.Começou por ajudar o Drº Mário Soares a meter o socialismo na gaveta no governo PS-CDS-o que terá feito com maior convicção do que muitos.Democrata -cristão para a eternidade, sempre dará alguma consistência ao aguerrido grupo de deputadas independentes que estão dispostas a trocar uns feriados laicos por alguns outros concordatários.
Pés de lista
Não sei como designar a metade dos cabeças de lista do PSD que ficou enquadrada pelo plano inferior do camara-man, numa destas estações mais sucintas.Pés de listas? Mas as caras não valem nada?Ainda vi Francisco José Viegas a descer do Marão sem gravata, mas juro que não vi metade da missa.E como gosto de umas fotografias para mais tarde recordar!
segunda-feira, 18 de abril de 2011
Milagre da Lapa
Os navegantes portugueses transformaram o Cabo das Tormentas no Cabo da Boa Esperança. Para os militantes da Lapa, Passos Coelho alcançou o contrário. Em poucos meses passou de “o próximo primeiro-ministro” a “mais recente aquisição da geração à rasca”. Depois de seis desgastantes anos de governação socialista, com o país a rapar o fundo ao tacho, após os sucessivos escândalos-Sócrates, o timoneiro do PSD conseguiu descer nas sondagens. E não é que tudo se deve ao seu mérito? Como o melhor que os sociais-democratas arranjaram foi alguém cujo CV tem como maior destaque “ex-líder de uma jotinha”, talvez não devesse surpreender. Mas comove.
Passos Coelho caiu em todas as ratoeiras que Sócrates causalmente lhe lançou. E ainda conseguiu entalar-se sozinho. Desde um aberrante projecto de revisão constitucional ao programa que não nasce, das contradições com os PECs à peta do “foi só um telefonema”, desde Nobre ao IVA, o “homem invulgar” já estrebucha para se manter à tona dentro ou fora do seu partido e arrisca-se a ser tanto primeira vítima da nova época balnear, como o salva-vidas de Sócrates. É obra e os debates televisivos ainda nem sequer começaram. Mas calma: alguém que afirma que Passos Coelho é um grande estadista. É Alberto João jardim e isso diz tudo.
Publicado no Correio da Manhã
sexta-feira, 15 de abril de 2011
The dark side da didadania
Fernando Nobre nem sonha com os dias que estão para vir.A mercancia daria para um honroso cargo de deputado ,quiçá com uns perfumes do lado na cidadania.Assim Mota Amaral e Jaime Gama irão ser eternanente lembrados. E depois não se troca um Pacheco Pereira por maus fígados
quarta-feira, 13 de abril de 2011
domingo, 10 de abril de 2011
FOI SÓ UM PESADELO
Num país distante, há muitos muitos anos, governo, Presidente e o maior partido da oposição seguiram a linha política X para resolver os problemas nacionais. Mas essas medidas só criaram mais dificuldades. Ainda assim, o governo queria mais X. Já o Presidente declarou que, afinal, essa linha estava errada pois existiam limites para os sacrifícios impostos aos cidadãos. Solução? Pedir intervenção internacional, nada mais, nada menos do que a linha política X + X.
O maior partido da oposição também achou que a população não aguentava mais X porque “mais X” não era “suficientemente X”. O governo caiu. A intervenção X+X acabou por ser chamada. Nessa longínqua pátria, o governo que fora criticado por tentar adoptar mais X sem dialogar foi depois aplaudido por pedir X+X sem dialogar. O executivo que afiançara ser bom governar com X mas inadmissível com X+X, jurou então que queria ganhar eleições para governar com X+X. Deste modo, um mês antes do escrutínio, o destino do país estava decidido. Governo e maior partido da oposição apresentaram-se a eleições discutindo apenas quem tinha a responsabilidade de X e a de X+X, embora ambos a tivessem, claro. E nunca mais se lembraram das consequências dessa cruz em cima dos cidadãos. Muito menos do restante alfabeto.
Publicado no Correio da Manhã.
PASSIVO-AGRESSIVO
As legislativas de 2011 fazem sentido para todos os que são contra a austeridade. Para os que a defendem, esse pedido pode até ser legítimo mas só se compreende pela vontade de “ir ao pote” (para empregar a expressão de Passos Coelho). Já para Cavaco Silva, que advoga a actual política (lembremo-nos de Eduardo Catroga), ocupa Belém com a inerente função de árbitro e recentemente garantiu que seria insustentável somar crises, nada dizer e limitar-se a marcar legislativas não é incompreensível. É inaceitável. Para isso qualquer burocrata bastaria.
No mínimo, mediante a maior crise em democracia, Cavaco deveria ter procurado formar outro governo sem dissolver o parlamento. Mas o seu erro não foi só pela ausência. Foi também por excesso. Afinal, ajudou à combustão com os discursos de vitória e de tomada de posse; com a imprópria nota dirigida a uma agência financeira; e com a sugestão que o governo de gestão pode chamar o FMI (o que muito agrada ao PSD).
Enfim, o Presidente tem-se calado quando devia falar e falado sobre o que devia guardar silêncio. Em vez da prometida magistratura activa, o país foi presenteado com uma magistratura passivo-agressiva. A única estratégia que nunca, mesmo nunca, deve ser adoptada em qualquer tipo de crise.
UM APELO ESPERANÇADO
Nesta altura, o país tem muitas dúvidas. E uma certeza: vença este PS ou o PSD, prosseguirá a austeridade que leva a mais austeridade, o PEC IV, V, N. Será inevitável? A última coisa que apetece é acrescentar mais crise. Mas, além da financeira, da economica- social, da dívida soberana, da Europa, existe a crise da esquerda. Do seu projecto. Daí que essa ala não tenha impedido nem as outras crises, nem que aqueles que as provocaram lucrem agora com elas.
Logo, ao PCP, ao BE, a muitos socialistas, sindicalistas, independentes e à esquerda órfã, a que continua não representada, não basta continuar a gritar que vem lá o Lobo. Devem juntar-se e, a partir das propostas já avançadas e outras que surjam, criar plataformas de compromisso. Essa base, articulada com a contestação a nível europeu, pode até apresentar ao PS um conjunto de condições mínimas para uma maioria de esquerda parlamentar. O actual PS nunca a aceitará? Provável. Mas nada dura sempre, o Largo do Rato não poderia continuar a vitimizar-se, o ónus da recusa seria seu e a semente ficaria lançada. Sobretudo, numas eleições que serão crispadas e profundamente marcadas pelo medo e pela lógica do voto útil, essa esquerda criadora mostraria que existe alternativa à barbárie. Essa mesmo que, de outro modo, triunfará.
Publicado no Correio da Manhã.
quarta-feira, 6 de abril de 2011
domingo, 3 de abril de 2011
Uma pausa
Esta semana é um tempo de pausa nas minhas aparições públicas aqui no blogue e na televisão.Volto em breve.
Tempo republicano
Zapatero decidiu não se apresentar como candidato do PSOE a primeiro-ministro na próxima eleição.Fê-lo sem dramatismos inúteis, marcando um tempo e uma prática republicana na Espanha monárquica, dando todas as condições para a renovação do seu próprio partido.Uma lição a reter.A cultura política democrática é uma coisa muito bonita.
sábado, 2 de abril de 2011
A crise por unanimidade
Depois do intenso dramatismo opinativo da semana passada sobre os malefícios da instabilidade política seguiu-se a tranquila dupla unanimidade-dos partidos e dos conselheiros de Estado-sobre a dissolução da AR e a marcação de novas eleições, como forma de ultrapassar a demissão do primeiro-ministro.Como escrevo no Correio da Manhã: «A conclusão é clara: todos queriam eleições antecipadas». O PR nem teve de esfregar as mãos.Guarda a «magistratura activa» para outra ocasião?
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