Em toda a Europa, discutem-se novos caminhos para a sua construção, a intervenção em Portugal (nomeadamente considerando o fracasso na Grécia e na Irlanda), debate-se a criopreservação da democracia que essas operações têm implicado. Por cá, impera o consenso. E ainda se pede à troika que interfira estruturalmente no Estado, desde direitos sociais a questões fiscais. Roga-se-lhe que, sem ser eleita, governe o país.
Há quem pense que este coro se deve ao messianismo sebastiânico. Outros acreditam que se trata da espinha partida por quase meio século de ditadura. Alguns crêem que se deve a esse provinciano deslumbre pelo estrangeiro. Ou que, simplesmente, é uma admissão de incompetência. Nada disso. É tudo por amor. “Compromissos Portugal”, governos de salvação nacional, garantir o apoio dos maiores partidos para que o resultado das legislativas não altere as imposições externas, desprezar a vontade popular, tudo isso e muito mais é por amor. Afinal, adaptando uma velha tirada, se tivessem graça e franqueza (uma elevada improbabilidade, reconheça-se), à pergunta “Comprometeram-se pelo país por amor ou por interesse?” esses pastores unanimistas responderiam: “Deve ter sido por amor, porque interesse não tínhamos nenhum.”