Os navegantes portugueses transformaram o Cabo das Tormentas no Cabo da Boa Esperança. Para os militantes da Lapa, Passos Coelho alcançou o contrário. Em poucos meses passou de “o próximo primeiro-ministro” a “mais recente aquisição da geração à rasca”. Depois de seis desgastantes anos de governação socialista, com o país a rapar o fundo ao tacho, após os sucessivos escândalos-Sócrates, o timoneiro do PSD conseguiu descer nas sondagens. E não é que tudo se deve ao seu mérito? Como o melhor que os sociais-democratas arranjaram foi alguém cujo CV tem como maior destaque “ex-líder de uma jotinha”, talvez não devesse surpreender. Mas comove.
Passos Coelho caiu em todas as ratoeiras que Sócrates causalmente lhe lançou. E ainda conseguiu entalar-se sozinho. Desde um aberrante projecto de revisão constitucional ao programa que não nasce, das contradições com os PECs à peta do “foi só um telefonema”, desde Nobre ao IVA, o “homem invulgar” já estrebucha para se manter à tona dentro ou fora do seu partido e arrisca-se a ser tanto primeira vítima da nova época balnear, como o salva-vidas de Sócrates. É obra e os debates televisivos ainda nem sequer começaram. Mas calma: alguém que afirma que Passos Coelho é um grande estadista. É Alberto João jardim e isso diz tudo.
Publicado no Correio da Manhã