Foi o Mário Mesquita quem me telefonou a dar a notícia do falecimento de António Borges Coutinho.Recuei aos anos sessenta em S.Miguel quando uns poucos activistas se reuniam na sua casa apalaçada para discutir a situação política numa perspectiva anti-salazarista. Borges Coutinho era sempre o mais animado e animador.Conheci-o depois da sua prisão e da minha.Separados por mais do que uma geração,notei que se interessava verdadeiramente pelas novidades e o modo de pensar das mais novas.Foi um resistente emblemático e actuante contra a ditadura.Quando esta foi derrubada o seu nome foi naturalmente sugerido para governador-civil do então distrito de Ponta Delgada.Pouco dado a tacticismos, o seu passado tão claro incomodou muita gente de má consciência.Numa situação tão explosiva como a que se viveu em S.Miguel em 1974-1975 a sua acção não foi de molde a acalmar os espíritos, mas portou-se sempre como um bravo, mesmo no dia em que uma manifestação de rua o cercou na sede do governo e exigiu a sua demissão.
Regressou com serenidade à condição de cidadão.Deixou alguns testemunhos dispersos sobre a apreciação que fez dos acontecimentos em que esteve envolvido, e que tenho citado como fonte histórica em alguns dos meus trabalhos.
Os Açores, e os portugueses em geral, devem-lhe uma homenagem e um reconhecimento pela sua luta pela liberdade e pela sua recta intenção como participante da coisa pública. sem pensamentos reservados.