Existem os vistos
de ouro e existem os que foram vistos vivos pela última vez apinhados numa
casca de noz a tentar atravessar o mediterrâneo. Mar que é hoje um imenso
túmulo da esperança. Como é possível que o Estado assuma, na nossa cara e sem
pinga de vergonha, que prefere dar direitos a quem quer branquear capital do
que a quem quer trabalhar?
É possível porque
estes “passaportes” mostram o que a casta dona-disto-tudo pensa da democracia e
da nação– não valem nada quando comparadas com a nota. Sobretudo, os vistos
dourados são a demonstração última que a corrupção não é um problema de um
punhado de boys gananciosos mas que é sistémica. Afinal, só se vende
nacionalidade e cidadania, só se mercadejam direitos e preferem-se os do
dinheiro aos humanos, quando a corrupção é um aspecto essencial do sistema,
ajuda a que ele se mantenha e não uma vertigem de quem chegou ao topo. Isto é,
a corrupção não é um cancro que metastiza este regime. A corrupção é a rede
que o sustém. O resto é apenas espuma dos dias e o silêncio não de ouro de um
presidente.