terça-feira, 22 de junho de 2010

Fazer a folha

 
Várias seitas judaicas disputaram o calendário samaritano ou fariseu, para dominar os respectivos grupos. Semanas de 10 dias, meses com nomes como Vindario: o calendário revolucionário francês simbolizava a queda do antigo regime e o início de outro. Os calendários organizam. Sobretudo, regem a ordem social. São um contrato. Daí que muitas guerras pelo poder correspondam a contendas de calendário. Controlando-o, controlava-se um povo.
Duas deputadas do PS querem mudar os feriados e invocam a produtividade, optando pelo modelo chinês quantitativo. Mas não qualitativo, seguido noutros países europeus com mais feriados/férias, onde se trabalha melhor menos horas. Propõem que fiquemos com seis feriados religiosos e três civis e que só estes sejam móveis evitando pontes, como se o Estado não fosse laico, o que foi reforçado pela igreja que invocou o direito a interferir. E falam do excesso de feriados, mas pretendem um  novo intitulado “dia da família”.
Estas duas deputadas católicas não são Júlio César ou Gregório XIII. Também não querem mudar toda a organização cronológica. Só quatro feriados. Mas as suas propostas são pequeninas disputas da identidade colectiva. São o chamado fazer a folha. Enfim, é pegar neste calendário cor-de-rosa e virar a página. 



Publicado no Correio da Manhã

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