O
25 de Abril só foi há 40 anos, mas grande parte do país esqueceu-se como foi
viver em ditadura, como se apagasse uma memória traumática. E parte das elites políticas
agradecem esse oblívio.
Não
havendo serviço nacional de saúde, mulheres, bebés e mais velhos caíam que nem
tordos. Muitos pais em vez de berço tinham caixão. Não existindo estado social
mas apenas assistencialismo, miúdos e graúdos passavam dias a trabalhar em
jejum, tinham sapatos depois dos 20 e só ao Domingo. Os mendigos iam para
centros reeducativos, como a Mitra, para aprender obediência, culpa e gratidão.
Com uma escola pública mirrada, a regra era “filho de pescador és, pescador
serás”. Muitos abalavam, com os passadores, a salto, tolhidos de fome e frio, a
pé, para chegar a Paris semanas depois. Era a fuga para ganhar a vida e ganhar
vida. Foi só há 40 anos. Agora, sai um português para o estrangeiro cada 5
minutos. Muitos partem cheios de esperança, oxalá vinguem, mas partem-nos a nós
a esperança de que isto volte ao sítio. Sobretudo, trazem-nos muitas
recordações.